TROFÉU POTI
Raquel de Souza

A luta coletiva de defesa do Centro Histórico me premiou
Depois da surpresa de ganhar o reconhecimento de um prêmio como o do Diário de Natal de produtor cultural do ano, vem a indagação das razões que levaram a conquista do tão almejado troféu O Poti.
Ainda em meio à forte emoção do primeiro momento, as primeiras palavras foram de agradecimento aos que estiveram conosco nos primeiros momentos de atividade artística. Vieram as lembranças dos finais de semana na Praia dos Artistas, quando no final dos anos '70 fazíamos a Galeria do Povo.
A Galeria do Povo era um movimento artístico a céu aberto, quando realizávamos exposições espontâneas de poesias, crônicas, artigos, recortes de jornais e revistas, artes visuais, esculturas e faixas de manifestações políticas.
Foi da Galeria do Povo que vieram os Festivais de Artes do Natal, no Forte dos Reis Magos, e as comemorações ao Dia da Poesia, realizadas, a princípio, romanticamente, e que se tornou data que se sedimentou no calendário de eventos da cidade.
Foram anos de muito romantismo na arte potiguar e que possibilitaram um ajuntamento de artistas das mais variadas manifestações e matizes, sem nenhuma preocupação de escolas ou tendências.
Dos tempos românticos aos dias de hoje, muitas promoções realizamos. Algumas vitoriosas, outras fracassadas. E muitos sonhos ficaram pelo caminho. Lembro 'O Dia da Criação', quando estivemos à frente da Associação dos Artistas Plásticos do RN, que, como tese, era algo a se esperar muito e que dele praticamente nada ficou. As limitações financeiras sempre foram vetores de alguns desses fracassos. Outras vezes, nem essas limitações impediram o sucesso de promoções sonhadas e realizadas.
Lembro a criação da Casa do Produtor Cultural pela FJA, da qual fui o primeiro administrador por pouco mais de três meses, e da tristeza de vê-la se acabar, poucos anos depois, à falta de quem zelasse pela idéia.
Claro que o passado de quem labuta nas artes da cidade há quase 30 anos, deve ter pesado na escolha de quem trouxe a mim essa homenagem.
Mas, creio, o trabalho recente deve ter pesado mais nessa escolha.
Com certeza, o trabalho à frente da Sociedade dos Amigos do Beco da Lama e Adjacências foi de fundamental importância para esse reconhecimento.
Foi através da SAMBA que pudemos desenvolver um trabalho quase que cotidiano em defesa do nosso centro histórico. Já até se perdem na nossa memória o tanto de eventos realizados, todos tendo como preocupação primeira chamar a atenção de autoridades e da própria população para a importância de se preservar o local que foi berço da cidade.
Para tanto, foi preciso novo ajuntamento de pessoas interessadas para o trabalho coletivo. E quantos não foram os que já estavam nesse ajuntamento nesses 30 anos de dedicação?
Mas muitos outros vieram nessa soma necessária. Trouxeram idéias e delas se fizeram atitudes que procuraram dar força ao movimento cultural que emergia do centro da nossa Natal antiga e tão contemporânea, com seus novos poetas, músicos, atores, bailarinos, artistas plásticos, jornalistas, enfim, toda uma gama de pessoas que nem só queriam fazer crescer o movimento cultural que vivemos, como despertar cada vez mais o amor pela nossa cidade e sua cultura.
O ajuntamento cresceu e os eventos vieram, culminando com os ousados II Festival Gastronômico do Beco da Lama em três etapas consecutivas, o I Réveillon do Centro Histórico e o I Carnaval do Centro Histórico.
O Festival Gastronômico do Beco da Lama, o PratodoMundo, tendo, embutida em si, a pretensão de tentar transformar o nosso centro em Praça de Alimentação também para quem nos vista. Lutar pela preservação patrimonial, com olhos para o turismo, é buscar a nossa história ali viva e cheia de atrativos, desafiando escritores e alimentando sonhos e devaneios de novas gerações.
O Réveillon do Centro Histórico tentando e conseguindo preparar o Carnaval que há anos sonhávamos e que morto estava há pelo menos três décadas no nosso centro.
Esses foram os últimos eventos de nossa gestão. A eles, creditamos, talvez, a lembrança da premiação.
Mantivemos com estes três eventos uma relação de paixão. De gana em realizá-los. Mesmo diante de incompreensões e da muita dificuldade que foi fazê-los.
Hoje, não estou mais à frente da bem-amada Samba. Mas a entidade de defesa do nosso centro está consolidada e é uma referência da cidade. Uma referência forte, porque de bem-querer e porque de identidade, de pertencimento.
Aos que hoje a administram, ficou a responsabilidade de tocar o trabalho deixado. Inclusive a busca de compromissos firmados para melhorias físicas do espaço urbano, buscados junto a vereadores e firmados pelo prefeito da cidade.
As parcerias culturais para a realização de eventos estão consolidadas. Fundação José Augusto, Capitania das Artes e Agência Cultural Sebrae foram e são fundamentais para o sucesso do trabalho feito e a realizar.
Parto, individualmente, para novas iniciativas. Algumas, de caráter particular. Mas não poderei esquecer, jamais, a força que sempre os trabalhos coletivos tiveram em minha vida neste difícil, mas prazeroso, campo das artes.
Aos que estiveram conosco neste trajeto, deixo sinceros agradecimentos, ao tempo que, com todos, partilho a glória deste troféu Poti.
A todos, muito abrigado, na certeza de que ainda estaremos juntos em muitos outros projetos.
Eduardo Alexandre

A luta coletiva de defesa do Centro Histórico me premiou
Depois da surpresa de ganhar o reconhecimento de um prêmio como o do Diário de Natal de produtor cultural do ano, vem a indagação das razões que levaram a conquista do tão almejado troféu O Poti.
Ainda em meio à forte emoção do primeiro momento, as primeiras palavras foram de agradecimento aos que estiveram conosco nos primeiros momentos de atividade artística. Vieram as lembranças dos finais de semana na Praia dos Artistas, quando no final dos anos '70 fazíamos a Galeria do Povo.
A Galeria do Povo era um movimento artístico a céu aberto, quando realizávamos exposições espontâneas de poesias, crônicas, artigos, recortes de jornais e revistas, artes visuais, esculturas e faixas de manifestações políticas.
Foi da Galeria do Povo que vieram os Festivais de Artes do Natal, no Forte dos Reis Magos, e as comemorações ao Dia da Poesia, realizadas, a princípio, romanticamente, e que se tornou data que se sedimentou no calendário de eventos da cidade.
Foram anos de muito romantismo na arte potiguar e que possibilitaram um ajuntamento de artistas das mais variadas manifestações e matizes, sem nenhuma preocupação de escolas ou tendências.
Dos tempos românticos aos dias de hoje, muitas promoções realizamos. Algumas vitoriosas, outras fracassadas. E muitos sonhos ficaram pelo caminho. Lembro 'O Dia da Criação', quando estivemos à frente da Associação dos Artistas Plásticos do RN, que, como tese, era algo a se esperar muito e que dele praticamente nada ficou. As limitações financeiras sempre foram vetores de alguns desses fracassos. Outras vezes, nem essas limitações impediram o sucesso de promoções sonhadas e realizadas.
Lembro a criação da Casa do Produtor Cultural pela FJA, da qual fui o primeiro administrador por pouco mais de três meses, e da tristeza de vê-la se acabar, poucos anos depois, à falta de quem zelasse pela idéia.
Claro que o passado de quem labuta nas artes da cidade há quase 30 anos, deve ter pesado na escolha de quem trouxe a mim essa homenagem.
Mas, creio, o trabalho recente deve ter pesado mais nessa escolha.
Com certeza, o trabalho à frente da Sociedade dos Amigos do Beco da Lama e Adjacências foi de fundamental importância para esse reconhecimento.
Foi através da SAMBA que pudemos desenvolver um trabalho quase que cotidiano em defesa do nosso centro histórico. Já até se perdem na nossa memória o tanto de eventos realizados, todos tendo como preocupação primeira chamar a atenção de autoridades e da própria população para a importância de se preservar o local que foi berço da cidade.
Para tanto, foi preciso novo ajuntamento de pessoas interessadas para o trabalho coletivo. E quantos não foram os que já estavam nesse ajuntamento nesses 30 anos de dedicação?
Mas muitos outros vieram nessa soma necessária. Trouxeram idéias e delas se fizeram atitudes que procuraram dar força ao movimento cultural que emergia do centro da nossa Natal antiga e tão contemporânea, com seus novos poetas, músicos, atores, bailarinos, artistas plásticos, jornalistas, enfim, toda uma gama de pessoas que nem só queriam fazer crescer o movimento cultural que vivemos, como despertar cada vez mais o amor pela nossa cidade e sua cultura.
O ajuntamento cresceu e os eventos vieram, culminando com os ousados II Festival Gastronômico do Beco da Lama em três etapas consecutivas, o I Réveillon do Centro Histórico e o I Carnaval do Centro Histórico.
O Festival Gastronômico do Beco da Lama, o PratodoMundo, tendo, embutida em si, a pretensão de tentar transformar o nosso centro em Praça de Alimentação também para quem nos vista. Lutar pela preservação patrimonial, com olhos para o turismo, é buscar a nossa história ali viva e cheia de atrativos, desafiando escritores e alimentando sonhos e devaneios de novas gerações.
O Réveillon do Centro Histórico tentando e conseguindo preparar o Carnaval que há anos sonhávamos e que morto estava há pelo menos três décadas no nosso centro.
Esses foram os últimos eventos de nossa gestão. A eles, creditamos, talvez, a lembrança da premiação.
Mantivemos com estes três eventos uma relação de paixão. De gana em realizá-los. Mesmo diante de incompreensões e da muita dificuldade que foi fazê-los.
Hoje, não estou mais à frente da bem-amada Samba. Mas a entidade de defesa do nosso centro está consolidada e é uma referência da cidade. Uma referência forte, porque de bem-querer e porque de identidade, de pertencimento.
Aos que hoje a administram, ficou a responsabilidade de tocar o trabalho deixado. Inclusive a busca de compromissos firmados para melhorias físicas do espaço urbano, buscados junto a vereadores e firmados pelo prefeito da cidade.
As parcerias culturais para a realização de eventos estão consolidadas. Fundação José Augusto, Capitania das Artes e Agência Cultural Sebrae foram e são fundamentais para o sucesso do trabalho feito e a realizar.
Parto, individualmente, para novas iniciativas. Algumas, de caráter particular. Mas não poderei esquecer, jamais, a força que sempre os trabalhos coletivos tiveram em minha vida neste difícil, mas prazeroso, campo das artes.
Aos que estiveram conosco neste trajeto, deixo sinceros agradecimentos, ao tempo que, com todos, partilho a glória deste troféu Poti.
A todos, muito abrigado, na certeza de que ainda estaremos juntos em muitos outros projetos.
Eduardo Alexandre