terça-feira, novembro 20, 2007

DE XARIAS E CANGULEIROS

PONTE NEWTON NAVARRO

Deise Areias

De xarias e canguleiros, travessia

Eduardo Alexandre

Era um sonho de natalenses: uma imagem na retina, sólida como a Fortaleza, que ficaria como cenário de fundo quase natural, não tivesse também sido erguida pelas mãos dos nossos homens. Força.

Quase na boca do rio, da Limpa à amada Redinha, a gamboa do Jaguaribe embaixo, exposta em seus manguezais. Vida. Progresso que se vislumbra em futuros. Barra. Baliza.

Sobre águas serenas que descansaram catalinas de vôos curtos, de pequenas asas, és a argamassa que leva, como bandeirante, ao porvir de grandes viagens. Sul a Norte, trajetória desbravada em quatro séculos de espera e labuta. Passado e presente. Perseverança.

O mercado do peixe, a igrejinha branca da Senhora dos Navegantes, a de pedra, dos veranistas, souberam esperar em paciência de décadas. Foram mirantes de conjecturas, planos, traçados e polêmicas, assunto.

Muitos se foram e não viram, vislumbraram, quiseram, pediram. Seus rogos ouvidos.

Os bois, as lapinhas, os fandangos brincados na areia fina e branca, amaciante para pés descalços, revivem cenas, cantam memórias, aplaudem resultados, comemoram graças.

O empecilho não transposto em passos por Jerônimo de Albuquerque, hoje é via de asfalto. União de margens antes distantes, ventura, conquista do Norte consolidada em tempos de paz.

Ponte Forte/Redinha, a Cidade dos Reis crescerá contigo, chegará a horizontes nunca transpostos.

Por ti, faz-se festa na terra de Poti, cantam-se praieiras, enaltecem-se seus feitos, suas glórias poucas e singelas. Vitais.

Como o amor de Porangaba, demoraste, chegaste madura, permanecerás.

Como tresmalhos em secagem, aguardarás os frutos do mar do amanhã, alimento laborado por muitas mãos.

Serás postal, marca, darás identidade única a povoamentos separados de uma mesma gente. Desenvolvimento.

Navarro não te rabiscou em papel. Demarcou, em foto, o local onde virias.

Para ti, potiguares hoje voltam olhares, contemplam tua silhueta de imensidão.

Compreendem, és, de xarias e canguleiros, travessia, materialização do nosso primeiro desejo, primeiro sonho: transpor o obstáculo que o Rio Grande nos impunha em sua foz; fazer-se desembocadura de novos sonhos.



Leia
no
www.almadobeco2.blogspot.com
Em defesa de postulados sagrados

segunda-feira, novembro 19, 2007

O SORRISO DA ALMA NATALENSE

Em defesa de postulados sagrados
Eduardo Alexandre

Que energia de sorrisos é essa, que emana do Beco? Qual é a mágica, a magia, o mistério?
Ali pisou Cascudo, Navarro, Luís Carlos Guimarães, Berilo Wanderley, Jorge Fernandes, Itajubá, Açucena, Mainha, Bosco Lopes.
Berço da cidade, as adjacências são o centro histórico de todos os nossos mortos, de nossa história, de nossa luta para virar cidade em tanto tempo. Como demorou ser cidade! Todos os nossos mortos perambulam por lá.
Quantas festas não fez a Praça da Alegria? Poucas por ano, é bem verdade: São João, Nossa Senhora da Apresentação, Natal. Anos e anos de esperas.
O carnaval foi o que acanalhou o Beco. Os rapazes se reuniam no Natal Club, Esquina da Rua Nova com a Inhomerim e saiam num Zé Pereira frenético, ladeira leve da Rua da Palha acima e abaixo, folia grande em portas estreitas e elevadas janelas, papanguzando o mundo.
Beco que já foi lama, hoje é fama e é alma.
Beco do Potiguarânia, de boêmios famosos. De maçonaria.
Adjacências de Cinemas, cocadas e Grande Ponto de João Machado, Djalma Maranhão, conversas sem fim jogadas fora, linho branco; líricos e loucos, Tubiba, Mulamanca. Professor Panqueca. Professor Grácio. Waldemar de Almeida. Gumercindo, Othoniel, Eduardo Medeiros. Praieiras e modinhas.
Beco do Rato, de Fia, de Gardênia, do Índio, do Estranho. Beco sonâmbulo. Da vida e de mortes. De mortais, imortais e mortos-vivos. Beco de vidas. Muitas vidas.
Esse sorriso do Beco é o sorriso da alma natalense, alegre criatura que perambula, perambula feito o carteiro de Cascudo, Helmut Cândido, ou o peripatético Volontê, vindo, devagarinho, manhãzinha, ladeira acima, com uma corda de aratu dependurada em cada indicador.
Beco da meladinha de Nasi. Da cachaça. Da música. Beco de muitas noites e dias de serenatas regadas a cerveja e buchada, rabada, dobradinha, carne-de-gato. Para todos e pra todo mundo, chorinho.