segunda-feira, setembro 25, 2006

NEM ERA CIDADE

Hugo Macedo


Era rio

Depois da resistência,
holandeses vencidos,
muitos se foram
poucos ficaram
a contemplar o rio
como em vigília

Foram anos, décadas
Três séculos de monotonia
e medo da escuridão

Uns, guardados pela Fortaleza
outros, na duna alta
ribanceira oposta ao mangue
de longe, a vigiar a barra

Em volta da capelinha,
deixada da fundação,
cabanas foram ficando
a demarcar meio à mata
sítios ermos, ali, ali

A oeste, o rio pequeno
de beber água boa, pura
como aqueles dias
de muita espera
- Tijuru?
- Tissuru, respondia o índio

A pesca, a caça, a coleta
a criação de pequeno porte
a agricultura de poucos elementos
o cuidar dos animais
eram o fazer do dia-a-dia.
Marasmo da vida inteira

Natal nem era cidade
mas o Potengi era rio



Caminho e praça

Defronte à capelinha
Rua Grande traçada
foram moldadas em taipa
residências perfiladas

Terreiro destocado, praça
e um caminho
a beber água

Anos e anos
de caminho e praça
vida sem graça
pouco afazer

Cidade nem era,
mais era um caminho
ou Rua do Caminho
De água beber


Relíquia esquecida

Os bichos sempre rondavam
no índio, não se confiava

Eram difíceis os dias

As noites da Rua Grande
eram escuras qual breu

Meninos sempre chegando
rapazes e moças casando
famílias se multiplicando
a exigir outras casas

Assim, beirando o caminho
seguindo o risco d’areia
por trás da capelinha
a Rua Direita se fez

Estratégica segunda rua
levava a pontos extremos:
À bica, ao Forte,
passando pela Ribeira
tornada bairro depois

Tal rua, hoje pequena
de nome “da Conceição”
foi Governo, Tesouro.
Hoje é História;
é solidão.



O chão dos maiorais


Por trás da Rua Direita
a pobreza das casas de palha

Entre elas,
a Rua do Meio
Na verdade, um beco de águas servidas

Mau cheiro, lama
- e doces sem-vergonhices -

Alvenaria chegando
choupanas substituídas
a pobre Rua da Palha
ficou rica, charmosa

Vieram desfiles, festas
virou chão de maiorais

Os primeiros carnavais foram ali
também, os sábados de zés-pereiras

Rapazes em festa na rua
moças discretas, em altas janelas

Rua de poetas, políticos
seara de intelectuais

Palco de cultura e perfídia
comércio,
Maçonaria

Boemia do Potyguarânia,
noites sem fim de cachaça
serestas, amores
de lá planejou-se a cidade
E muitas conspirações.



Cantão da alegria

A Praça da Alegria
não via o passar das horas
Em sombras de gameleiras
era encontro, conversas, festa

Foi o primeiro cantão
ágora de toda gente

Ali se reuniam
o amor, a infelicidade
Foi grande ponto de outrora

Os rumos de suas auroras
fez agigantar-se a cidade
em busca de outros caminhos
cruzados a ruas novas

Serestas, recitais, fandangos
Era a alma da Natal antiga
Fervilhava de gente à noitinha
à lua, só os boêmios cantavam

Santa praça de santo
protetor de toda a cidade

São João Maria, acalanto
hoje de bondade brônzea
é fé
é esperança,
é doce – e grata –
toda alcançada graça.



Alma da cidade

Presidente da Província,
passando da Rua Nova,
Sarmento limpou artéria
apontando para os morros
da chamada Solidão
(Tirol de antigamente)

Grande Ponto cheio de graça,
na esquina dessas ruas
um Café deu nome ao ponto
por onde cem anos depois
bondes cruzar-se-iam
e toda gente circularia
em busca de novidades

No entorno, lojas
cinemas, sorveterias
bares, confeitarias
e uma boca metálica
no poste daquela esquina
a dizer notícias de guerra

Porto de todo dia
de todas as horas do dia
a Rua Sarmento de ontem
tornou-se Inhomerim
depois, Pedro Soares
e João Pessoa, por fim

Esquecida talvez de si
foi, durante décadas
a referência maior:
- assunto -
alma de toda a cidade
crescida das glórias dali.

Eduardo Alexandre

quarta-feira, setembro 20, 2006

SANTA PRAÇA

Lenilton Lima
Cantão da alegria













A Praça da Alegria
não via o passar das horas
Em sombras de gameleiras
era encontro, conversas, festa

Foi o primeiro cantão
ágora de toda gente

Ali se reuniam
o amor, a infelicidade
Foi grande ponto de outrora

Os rumos de suas auroras
fez agigantar-se a cidade
em busca de outros caminhos
cruzados a ruas novas

Serestas, recitais, fandangos
Era a alma da Natal antiga
Fervilhava de gente à noitinha
à lua, só os boêmios cantavam

Santa praça de santo
protetor de toda a cidade

São João Maria, acalanto
hoje de bondade brônzea
é fé
é esperança,
é doce – e grata –
toda alcançada graça.

Eduardo Alexandre

terça-feira, setembro 12, 2006

CAMINHO E PRAÇA

Defronte à capelinha
Rua Grande traçada
foram moldadas em taipa
residências perfiladas

Terreiro destocado, praça
e um caminho
a beber água

Anos e anos
de caminho e praça
vida sem graça
pouco afazer

Cidade nem era,
mais era um Caminho
ou Rua do caminho
De água beber