sábado, julho 11, 2009

PÉRIPLO ESTÉTICO

PÉRIPLO ESTÉTICO DE UM TEXUGO PROVINJOYCIANO

Plínio Sanderson

sábado 27/06

arteruaweb

1. arte no calçadão de copacabana (av. atlântica) em frente ao hotel. os artistas expõem seus trabalhos informalmente e você pode interagir/dialogar ... vários estilos, um defronte aos outros, num corredor plástico, todos reunidos sobre as pedras portuguesas - ícone de copa. dois contatos, um (paulo cesar) pintava cenas soturnas de jazz; o outro (marcos), pintava os morros de forma interessante, inter/ferindo pontiagudo e diretamente na tela. ôps! um deixei escapar, enquanto fui no bob’s, ele esvaiu-se nas mãos de um casal de gringos. encontrei-os no elevador e quase desapropriava-o em nome dolhar na primeira pessoa. Maldita transumância e capital globarbarizados.

domingo, 28/06

quadroriojesusweb


curtir os 400 metros até o forte (e museu) de copacabana ; fotografar-se com o poeta de Itabuna. caminhada arpoador-ipanema feirinha (sem) hippie. mais trabalhos expostos, e, encontro um trabalho de jesus, patrício, é assim que ele grifa. feito com espátula, em relevo proeminente de tinta óleo, esculpindo em talhes abstratos, casebres envolto em vultos. tá aqui, para ser admirado ad infinitum. à noite, incorporei também à coleção um abstrato, em alto relevo, de cidinha alcântara, artista citada em várias antologias. dois quadros anexados ao acervo da minha “infinita estética particular”.

terça 30/06

vradarussaweb

explorar os sentidos rumo ao centro, seus museus e os centros próprios da cultura... praça xv, centro cultural do banco do brasil, que viagem, exposição: “virada russa”, simplesmente a arte russa no período anterior à revolução bolchevique até os anos 30 com a arte engajada (“pelas massas”) via politiburgo stalinista. pasmem! a coleção do museu estatal russo de são petesburgo. somente arte de vanguarda na veia, do jeitim que gosto e me deleito. neoprimitivsimo (e existe?), futurismo, cubismo, raionismo, fauvismo, construtivismo, e claro, o abstracionismo (pretencioso) de vassili kandínski, doido de avoar pedras e tintas à toa em tântalos. para quem não sabe, kandínski foi responsável pelas artes plásticas na rússia pós-revolução. em pouco mais de dois anos construiu mais de 350 museus em toda rússia, quase um, a cada dois dias. com stálin, e o premente “dispositivo de formação política ideológica”, foi substituído e acusado de fazer arte burguesa, bateu em retirada para europa, tristonho da silva, com se fosse também xavier. kazimir maliévitch (suprematismo), tátlin (pai do construtivismo e seus bólidos e objetos ready-mades prá lá de dadá), pavel, gontcharova (raionismo), larinov, chagall, rodtchenko, desembocando na arte industrial, design, cartazes, impressões em materiais vários, e apologia à militância: butanov, lárov, samok, etc. maravilha, múltiplos orgasmos, prazer que arrepiava e entrava pelos enes buracos dessa armadura de carne, ossos e vestimentas...

centro cultural dos correios, ciclo/reciclo, de márcia carlos de andrade, arte construída com restos de vidros, forjados pela temperatura, num resultado muito instigante, vidros distorcidos, formando aranhas e sei-lá-o-quê?

paço imperial, a retrospectiva de bonfatti, um expressionismo do horror, dezenas de auto-retratos, tipo temporada no inferno e auto-iluminuras nas profundezas endiabradas. (obs)cenas de deformações e doenças. barra pesada nas trevas existenciais.

museuweb


museu histórico nacional,
no projeto ano da frança no brasil, a) louvre houdon, uma mostra de esculturas do houdon, de personas como motesquieu, voltaire, buffon, etc; b) cartazes de guerra, de artistas gráficos denunciando a guerra civil na espanha, fantástico; c) sedução do oriente, objetos orientais do japão, china, tailândia, índia, indonésia; d) mostra fotográfica, “andalúcia (1935)” de pierre verger; e) e o cervo histórico do museu, trono real, carruagens, fuleragens imperiais, etc...

funarte, “da rua: que pintura é essa?”,
mostra de trabalhos do derlon almeida (pe) e do marinho (rj), imagens da rua em espaços institucionais. pseudo grafites meio basquiat. Estava exposto o projeto conexões artes visuais onde são citados os potiguares: civone, guaracy, marcelo Gandhi, sayonara, etc...

museu de arte moderna (final do aterro do flamengol): a) exposição permanente da coleção de gilberto chatô, obras que marcam o início do século até anos 90. achei a mostra do museu de belas artes mais significativa; b)arakem, intervenções em livros ou poderia se dizer livro de artista.

quinta, 02/07

roninweb


singrar galerias da zona sul. o destino era as galerias da teixeira de mello em Ipanema, mas, primeiro, uma passada no shopping cassino no final de copa. loucura! uma dezena de excelentes galerias. a) maurício pontual, quadros mais lineares, clássicos; b) rembrant, quadros de vários estilos, inclusive com portinari; c) galeria g, obras construtivistas interessantes; d) rondi, com trabalhos muito massa com quilos de tintas derramados em camadas sobrepostas, do artista wladimir jung; e)m movimento arte contemporânea, obras interessantes de artistas mineiros com materiais vários, contato interessante com gilberto cabral, artista e dono da galeria; f) galeria patrícia costa, encontro um puro antônio parreira; g) espaço eliana benchimol, só artistas neoconcretistas e arte cinética, genial! os trabalhos iam de R$ 30.000 até 130.000. outro contato legal, a senhora que nos atendeu era parente de floriano cavalcanti.

sexta, 03/07

oiticicaweb


dia chumbo, seguir ao centro de metrô para continuar perambulação por museus. do largo da carioca, rumando à praça tiradentes em busca da mostra durex, não encontramos e fomos até o centro hélio oiticica, para mim, o artista brasileiro (arte longa, vida breve) mais antenado na modernidade; mostra “penetráveis”, onde o espectador deixa de ser apenas mero observador e passa a ser (p)arte da obra, todos sentidos corpóreos integrados num orgone só. quase gozo pelos poros, juro! Eu, tiete total de oiticica.

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museu de belas artes nacional, os acadêmicos Victor meireles, pedro américo, réplicas de esculturas helênicas, expô de fotografias “moedas da areia” de cesar barreto, o limiar pré –modernista: pancetti; guinard; Tarsila; lasar; di Cavalcanti; Portinari; Brecheret; até os contemporâneos: Scliar; iberê Camargo; manabu mabe; Volpi; siron; ione Saldanha; amilcar castro; leonilson; palatinik (na apresentação, natal 1928); lygia Clark; ivan Serpa; fiquei doideca, abestado e boquiaberto, donde adentrou vários shops no portuga do “casual retrô” e fazendo parede, a párea: bacalhau à espanhola e risoto à José sapateiro. manjou os manjares?

À noite, no sesc de copa, duas quadras do hotel, a peça “diário de um louco” baseado na obra de nicolai Gogol, com interpretação de Cláudio thovar. cenário incrível e monólogo arretado.

esses artistas geniais e geniosos, impregnados pelos contextos em que estão inseridos (ou não!) são verdadeiras antenas da raça, e através da arte destroem a brutalidade da matéria, impondo-lhe a fantasia e a pureza transitória da forma. abrindo um caminho de interseção entre o singular e o universal, o particular e o geral. através da nuance de uma obra artística temos acessos aos significados de realidades oníricas. às vezes, distantes, outras, bem aqui, coladas ao umbigo.

Enquanto isso, nossa pinacoteca continua fechada e acredito que perante a euforia utópica da copa de 2014, assim permanecerá, para abrigar alguma repartição da bur(r)ocracia administrativa que atrapalha o trabalho estatal. Triste sina, a que será que se destina? memórias histórico-plásticas, às cucuias!

IMGP0914